Poemas
Travessia
Me atravessa No interior da casa vazia A consciência que silêncio é utopia Vibra a frequência do refrigerador No inverno que se aproxima O aquecedor trabuca A canção vizinha cruza fronteira Enquanto na outra borda Há estampido de parede A ganhar novo quadro Penetra a janela Prosa trabalhadora Há fazer do braçal sacrifício Tempo do riso A distância o motor do coletivo passa e fica Estende-se pelo espaço Respiro… O silêncio reverbera novos sons.
2021
Renascer
Despediram-se na semana última
Em espera
Fez-se difícil fala
ante sensação de não posse
Suas texturas
Composições
Formas
Fluidez
Agora simbólica autoria
Estão entregues ao novo
Ao outro
Refletidas inquietações
A pegar carona em trajetória alheia
Ganham novos contornos
Significados
Recebem adjetivo sentido
A distância as contemplo ressonar
Inéditos encontros
Preencher espaço
Viver na potencial imaterialidade
O belo de não mais me pertencerem.
2021
Poesia de Véspera
Na antecedente noite
Despiu-se do traje
Fez curvo passo
Provou relíquia da estrela
Observou tintura na faixa
Encontrou sorrisos
Embriagou-se em lágrimas
Ouviu vozes
Sentiu calor no inverno
Não tardou, viu
a noite
Era o presente.
2021
Escrita
Não vou lhe perder.
Te sinto entre meu coração e dedos.
Hoje, conseguiste despertar minha atenção e não serei eu, o louco a te negar.
Nossos encontros são raros.
Não queres folha em branco
Do lado de cá, não aceito vida em branco.
Me observas a dormir... E hoje, cedo me acordaste.
Estavas linda vestida em cores,
Embora carregues em ti também espinhos.
Em meio a sombras e brilhos
Sei, me queres.
Já te disse: Não serei eu o louco a te negar.
Ontem, na aeronave me acalentaste
Puseste borboletas para voar
Me lembras-te em tua forma
Que a mim, não faz bem negar-te.
Pedes passagem... Gritas, para que em meu egoísmo não te prenda.
Sinto que pedes minha atenção,
Ao tempo que dizes: “Libertai-me!” Aqui me tens... A folha não mais em branco.
A vida, preenchida.
E tu? - Segue a tua vida!
Não mais te aprisiono,
Estás livre. Sempre o foste.
Não cabe em mim te aprisionar
És infinitamente maior.
Não mais comigo,
Serás por instantes dos olhos que pousarem sobre ti.
Esses sim, irão te transformar
Pois aqui estás: Escrita.
Christian Baes
nov/2018
Açucar
Levo o açúcar
Pois da vida
Fico com o doce
2021
Amizade
Amigo, te amo.
Na grandiosa vida
Passos largos
Degraus curtos
Pés a cruzar de peito aberto a larga avenida.
Horizonte
Brisa
Lua
Plenitude para dizer:
Amigo, te amo.
Da poesia dos dias
Há aqueles a passar sem deixar saudade,
Uns a ficar pelo simples sorrir.
Há aqueles de balanço entre nuvens
apressados,
Os que se constroem em muitos quadros
De verde e mar,
Há ainda os trilhados sobre ferro,
De contemplar flor a mesa
E cultivar o vazio interior.
Há sempre poesia, nos dias.
Encantadora
Ao falar em beleza
Me refiro a essa,
Chegada ao exterior no brilho do olhar
Esse órgão, transmissor ~ receptor
Que, para além de nos conectar
Nos faz vida.
Por ele passa o mundo,
Fixa-se nossa história.
Memórias
Alegrias
Medo
Desejos
Tudo…
A revelar quem somos,
Nossa bagagem
E para onde vamos.
Por esse tanto,
encantadora não seria a beleza
Não viesse ela do olhar.
Noites de Verão
Em noites de verão o caminhar é diferente
Há maior balanço entre tornozelo e quadril
Grãos que somos
Experimentamos a leveza da areia
Frente a brisa atlântica
Vibrações sopradas junto a maré
calorosamente iluminada por Dalva, Marias e incontáveis constelações
Enquanto a lua, em ciclos cruza o céu.
Convite feito,
Sorte a nossa
Verão viver o ano inteiro.
2018
A flor
A flor,
de cor rosa
cujo nome desconheço,
ao final da tarde se recolhe.
Fiel, desabrocha no dia seguinte,
faz meu peito sorrir.
A flor me lembra,
que a saúde pede recolhimento,
Que por vezes, de nada vale brilhar
no escuro.
Hoje, agradeço a flor,
que me conduziu ao pássaro.
Esse por sua vez, lembrou-me
que ao homem,
sempre caberá a fantasia do voar.
2020